A generalidade das pessoas tende a pensar que ser treinador é uma tarefa que está ao alcance de qualquer um. Na verdade, elas não estão assim tão enganadas. Treinar uma equipa de basquetebol, futebol, voleibol ou de hóquei em patins não é assim tão complicado. A grande dificuldade está em desempenhar essa função de forma eficaz. Os problemas começam a surgir precisamente neste ponto. Afinal de contas, quando falamos em eficácia, estamos realmente a falar do quê?!
Para alguns, ser eficaz é ganhar a qualquer custo. Para outros, eficácia é jogar bem. Há ainda aqueles que consideram que a eficácia está na capacidade de educar e formar para o futuro sem dar grande importância à competição. Será que algum destes conceitos está correcto? A resposta mais óbvia é dizer que um bom treinador tem que procurar ser eficiente nos três conceitos. Claro que sim. Mas sejamos sinceros, já alguém viu uma equipa a ganhar, a jogar bonito e sem atletas com tiques de vedeta? A realidade é que ninguém consegue cumprir os três objectivos de forma absoluta, até porque eles são de certo modo incompatíveis.
Sendo assim, tendo em conta este trade-off, não resta outra solução a um treinador que não seja seguir uma filosofia. Não há filosofias certas nem erradas. Cada um tem a sua, e deve gerir as respectivas equipas em função daquilo em que acredita. Se assim o fizer, estará certamente empenhado na sua função e motivado para transmitir os seus conhecimentos. No entanto, estou convicto que dentro de cada estilo de liderança há filosofias mais adequadas do que outras. Formação é uma coisa, competição de alto-nível é outra totalmente diferente. Daí que no meu entender, um bom treinador de formação dificilmente será um líder de excelência a nível da alta competição e vice-versa. Precisamente porque existe uma grande diferença de mentalidade que não pode ser alterada com um simples clique. Não é possível ser extremamente competitivo e olhar apenas para os resultados hoje, e amanhã ser rigoroso na pedagogia e olhar exclusivamente para as componentes formativas. Os treinadores não mudam a sua filosofia conforme o cargo que ocupam, podem ajustá-la, mas a sua verdadeira forma de entender o desporto acabará sempre por vir ao de cima.
Gerir um grupo de jovens não é fácil. Eles não têm contas para pagar nem objectivos contratuais a cumprir, mas têm borbulhas na cara, hormonas a fervilhar e sonhos para concretizar. A amizade, o carinho, o afecto são a chave para o sucesso de um bom líder. Aqueles que pensam que é possível separar a componente desportiva da componente humana estão redondamente enganados. O desporto é uma actividade social. Não é possível separar o João que tirou negativa a matemática do João que joga basquetebol. Não é possível separar a Joana que teve um arrufo com o namorado, da Joana que lança ao cesto... Por isso é que o envolvimento na vida dos atletas é tão importante. Muitas vezes, a resposta para um rendimento menos positivo está mesmo debaixo do nosso nariz e pode ser resolvido com uma conversa, ou, quem sabe, com um pequeno conselho.
Seja qual for a filosofia adoptada, seja qual for o estilo de liderança escolhido, o essencial da questão parece-me estar bem resumido numa célebre expressão de Albert Einstein:
"Lembra-te sempre que o caminho que trilhares para o sucesso é mais importante que qualquer outra coisa".
Bruno de Oliveira
- treinador de basquetebol -
Olá.
ResponderEliminarPartilho da mesma opinião e sublinho esse perfil traçado para treinadores de modalidades colectivas, mas eu, como treinador de uma modalidade individual sou obrigado a discordar no que respeita a que um treinador siga uma filosofia escolhida. Eu treino juvenis e treino séniores. Treino atletas de alta-competição e outros de âmbito mais regional... cada um é tratado de maneira diferente, conforme os seus objectivos, personalidade e idade. O que me leva a escolher diferentes filosofias de treino para cada um, o que torna esta tarefa muito difícil mas claro... existe uma filosofia de treino geral (no meu caso baseada na motivação) que se aplica a todos.
Mas sim, é extremamente complicado treinar atletas com objectivos distintos (formação vs competição) o que me leva a concordar com o que o autor diz e por vezes, a melhor opção, é o treinador optar por um lado.