Em todos os aspectos da educação dos jovens, o acompanhamento familiar é indispensável para o desenvolvimento máximo das suas capacidades. Sentir o apoio dos encarregados de educação, em tudo o que se faz, é sem dúvida essencial para o sucesso ao longo de uma vida desportiva ou académica. Alguns pais tendem a desvalorizar a utilidade do desporto na vida dos filhos, outros tendem a sobrevalorizar a sua importância. Tanto num caso como no outro, estamos perante situações que apenas contribuem para a desilusão e infelicidade dos jovens, algo que está muito longe de ser o sentimento pretendido com a prática desportiva.
Incentivar o treino, bem como partilhar vitórias e derrotas dos mais novos, são funções que os encarregados de educação não devem desprezar. O sentimento de pertencer a uma equipa é muito mais forte do que se pensa, e privar um jovem de estar com os seus companheiros pode muito bem ser uma punição demasiado dura para quem pratica determinada modalidade. Castigar uma criança proibindo-a de ir a um jogo, ou aconselhá-la a faltar a um treino para estudar, são erros muito comuns cometidos pelos encarregados de educação. Não é com certeza por praticar determinada modalidade, por treinar 3, 4 ou cinco vezes por semana que o rendimento escolar vai baixar. Eu próprio pratiquei basquetebol, treinava 5 vezes por semana, jogava ao sábado e ao domingo, era treinador ao mesmo tempo, e não foi por isso que deixei de frequentar o ensino superior. Tal como eu, todos os meus companheiros de equipa seguiram uma vida académica, e estão agora espalhados por algumas das melhores Universidades do país.
Quando tento explicar esta falta de correlação entre prática desportiva e insucesso escolar, conto sempre a história do Jorge, um companheiro de equipa que durante muitos anos partilhou o mesmo emblema que eu. No nosso grupo, o Jorge era dos jogadores mais importantes. Ele não tinha percentagens incríveis da linha de 3 pontos, nem sequer dominava a bola como se fizesse parte do seu corpo. Não era extraordinariamente rápido nem defendia ao ponto de causar o pânico nos adversários. Em bom da verdade, o Jorge nem sequer tinha muito jeito para o basket e quando os jogos eram mais disputados, por vezes nem chegava a entrar. O que tinha então ele de especial?! O nosso amigo Jorge raramente faltava a um treino, nunca falhava um jogo, era o primeiro a alinhar em convívios e jantares de equipa, e não foi por isso que deixou de entrar no curso que sempre desejou: medicina. Ora se o Jorge conseguiu conciliar tudo e entrar num curso que exige notas extremamente altas, porque raio os outros não hão de conseguir?! Será este um caso único? Obviamente que não, até porque para espanto de muitos encarregados de educação, existe de facto uma correlação entre prática desportiva e sucesso escolar, mas ela é positiva, e não negativa como muitos gostam de presumir.
No lado oposto da barricada, estão os país que tendem a fazer do desporto o assunto mais importante do mundo, acabando por pressionar em demasia os jovens atletas, tirando-lhes a motivação essencial de quem faz exercício físico: a diversão. Ver adultos aos berros na bancada com árbitros, treinadores, ou os próprios miúdos, é um espectáculo pouco digno que faz corar de vergonha todos os presentes que tenham o mínimo de lucidez mental. Passar a ideia de que ganhar é o mais importante, é outro erro comum nos encarregados de educação, embora neste assunto, os treinadores e dirigentes tenham também a sua quota de responsabilidade. Afinal de contas, se perguntarmos aos nossos atletas porque é que praticam desporto, quantos deles vão responder que é para ganhar campeonatos?! Garanto que se fizerem o teste, a conclusão vai ser surpreendente.
Bruno de Oliveira
treinador de basquetebol
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