quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Rui Rego: “Muita gente continua a achar que Ténis de Mesa é pingue-pongue”

Não basta pegar numa raquete e marcar uns pontos para ser um bom jogador de Ténis de Mesa. Rui Rego começou bem cedo a investir na modalidade e considera a sua equipa uma segunda família. Quem pratica uma vez na vida já não consegue parar.

Com que idade começaste a praticar Ténis de Mesa? 
Quando estava no Externato das Neves, em 1999, o professor Jorge convidou-me a fazer um ou dois treinos e alinhei na brincadeira, não muito na perspetiva de continuar. Acabei por gostar e combinei com um amigo ir até ao Centro Recreativo e Cultural das Neves (CRCN) fazer uns jogos. Na altura apareceu o Amadeu Silva, que me fez começar a praticar regularmente.

Como descreves o teu percurso na modalidade? O Centro é como uma segunda casa minha e é com alegria que olho para todos os bons momentos que passei na modalidade. A nível desportivo, enquanto atleta jovem, tive um percurso razoável. Consegui bons resultados a nível nacional que hoje em dia são muito mais difíceis de obter. Penso que foi um percurso bastante bom.

Qual foi até hoje o melhor momento da tua carreira? Na classe de Juniores acho que atingi um momento de forma bastante elevado e consegui uma boa classificação no campeonato de Seniores. Nesse mesmo campeonato distrital, no último jogo, fiz um jogo de grande nível e, contra todas as expetativas, derrotei um atleta do Barroselas (Rui Lacerda). Com essa vitória retirei-lhe o título de campeão, "oferecendo-o" a um atleta das Neves (Filipe Baptista). Foi, sem dúvida, um momento alto que jamais esquecerei e pelo qual me sinto extremamente orgulhoso.

E o pior?
Há muitos. O meu pior momento foi quando regressei da Suíça e tive que fazer um apuramento para a 1ª Divisão. Na altura não consegui ficar nos dois primeiros. Fiquei em 3º lugar e passei duas semanas bastante em baixo porque era um objetivo teoricamente simples e que falhei.

Como reagiste ao facto de estares na Suíça e não poderes praticar Ténis de Mesa regularmente? Foi bastante complicado. Na altura ainda tentei procurar um clube para treinar, mas as quotas de inscrição eram bastante elevadas. Associar os estudos, a vida de Erasmus e os custos não foi fácil e acabei por não praticar. Custou-me imenso, mas estava sempre em contacto com a minha equipa para saber os resultados. Pior que isso foi o tempo que demorei a recuperar a minha forma, que foi bastante longo.


Neste momento, estás a trabalhar em Lisboa, mas continuas a jogar pela equipa de Viana. Como não podes treinar com os teus colegas decidiste praticar com os Catedráticos, uma equipa de Carnaxide. Como foste lá parar? A minha história no Catedráticos é engraçada. No ano passado, o Miguel Vaz, que é o coordenador dessa equipa, encontrou-me num torneio e disse-me que costuma passar férias em Viana e falou em marcar um treino connosco. O ano passado, no Torneio de Vila do Conde, ele veio ter comigo e perguntou-me se queria marcar o prometido treino. Conversa puxa conversa e eu disse-lhe que ia para Lisboa. Foi aí que ele me convidou a ir lá treinar. Decidi ir e ainda bem, porque o ambiente, desde o início, foi espetacular. Neste momento, estou a treinar duas a três vezes por semana.

Qual é o maior benefício que retiras por treinares nesse clube?
Além de conseguir manter a forma, é um clube que acolhe muitos jogadores, o que me permite jogar com muitos atletas diferentes. O nível deles não é inferior ao meu e alguns são superiores, o que proporciona bons treinos. Ou seja, em tudo está a ser muito positivo porque posso manter o nível, melhorar e, além disso, passo um bom bocado, em que reina a camaradagem. Desde Maio que estou cá e a melhor escolha que fiz foi optar por treinar nos Catedráticos.

Gostavas de jogar num clube de maior dimensão?
Sonhos todos temos e, se calhar, em miúdo queria um clube maior, mas o que queria mesmo era chegar a Sénior e ter outro tipo de nível bastante melhor. Sempre tive a noção de que o Ténis de Mesa exige muito treino e quando era Cadete e Júnior via que os melhores já treinavam todos os dias e até várias vezes ao dia enquanto eu treinava duas a três vezes por semana. Desde cedo tive a perceção que era muito difícil jogar noutro patamar, mas o meu sonho, neste momento, é representar o Centro num nível superior. Ultimamente temos lutado pela manutenção, mas o meu sonho é sermos uma equipa bastante forte que todas as outras tenham receio. O meu sonho é que as outras equipas olhem para o nome do Centro e digam “Este é um adversário de respeito”. Ainda temos que trabalhar muito e cada vez mais.

Foto: Jaime Pereira
A equipa do CRCN tem jogado na 3ª Divisão, mas este ano, devido a alterações da Federação, vai integrar a 2ª Divisão Masculina. Esta mudança traz algum benefício? A nível da competição vamos defrontar quase as mesmas equipas da época passada e, portanto, o nível será relativamente semelhante. A maior dificuldade é que, apesar de não descer nenhuma equipa, três equipas vão disputar a manutenção e isso obriga a termos que ir mais além do que têm sido as últimas épocas. O desafio vai ser maior do que nas outras épocas, apesar de o nível ser semelhante.

Ao contrário de épocas anteriores, este ano, o CRCN assume que o objectivo não passa pela manutenção?
Dada a motivação com que estamos a trabalhar e a preparar a nova época (fizemos muitos quilómetros a Espanha para participar em torneios), penso que vamos entrar em todos os jogos para ganhar. Sabemos que vai ser difícil e temos noção das nossas debilidades, mas este ano estamos convencidos que podemos fazer algo bonito.

Qual é o panorama do Ténis de Mesa em Portugal?
O que se passou nos Jogos Olímpicos foi um ponto de viragem para a história do Ténis de Mesa, em Portugal. Tínhamos três, quatro jogadores de elite a nível mundial e tínhamos pouco conhecimento da modalidade em Portugal. Infelizmente, ainda existe um número reduzido de atletas federados, pouca gente conhece o Ténis de Mesa e muita gente continua a achar que é pingue-pongue, um simples desporto de recreio.

Como explicas que tantas pessoas gostem de jogar pingue-pongue, mas não invistam numa formação profissional de Ténis de Mesa?
O Ténis de Mesa não move tantas massas como o Futebol, por exemplo. Por outro lado, é um desporto individual e eu penso que gente chama gente. Chamando mais gente à modalidade automaticamente mais gente estará disposta a apoiar. Penso que o Ténis de Mesa precisa de ter mais visibilidade para chamar gente e precisa de ser reconhecido para as pessoas perceberem que aquela modalidade, apesar de ser individual, pode chamar muita gente.

A dificuldade em ser jogador profissional tem alguma influência?
Eu não iria tanto por aí, porque tenho a certeza que toda a gente que entra para o Ténis de Mesa e tem potencial não vai desistir por achar que não vai ser profissional. É um desporto em que quem entra, nunca mais deixa. Infelizmente, há poucos apoios e há muitas equipas que estão restringidas a poucos jogadores, porque não há condições para ter mais atletas. O Centro também vive muito essa dificuldade e, neste momento, podemos dizer que não temos mais atletas por falta de condições.

Que sonhos te faltam concretizar?
Falta-me um título do Campeonato Distrital de Seniores. Esse é, no curto prazo, o meu objectivo.

Passa & Corta 
Nome Rui Filipe Barros Amorim do Rego
Idade 24 anos
Clubes CRC Neves (1999 - Atualidade)
Principais Títulos Campeão Distrital Cadetes, Júniores, Sub-21 e Pares; Campeão do Minho em Sub-21; Vencedor III Top 8 - Taça Cidade Viana do Castelo
Ponto alto Subida à 3ª Divisão Nacional
Ponto baixo Regresso à competição após Erasmus na Suíça

Fabíola Maciel

Sem comentários:

Enviar um comentário

O Desporto em Viana publicará na integra os comentários devidamente identificados. Os textos que não respeitem esta condição serão analisados, ficando a sua publicação pendente do teor dos mesmos.