quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Opinião E: Errem muito…*

Com uma acuidade gritante se observam adultos, indivíduos com formação académica e pais a manifestarem verbalmente nos jogos de formação a sua intolerância pelo erro, acto tão normal e natural quanto mais não seja por ser realizado por crianças.


Critico, condeno até que se inibam as crianças de fazer, de tentar, de agir, mesmo que esse gesto represente um erro. Entendo que é preferível fazer mesmo que mal do que não fazer com receio de ser repreendido por tal. Bem sei que se não se tentar fazer não se erra, mas também nada se aprende, nada se melhora, somente o medo de errar se desenvolve e consequentemente a diminuição da sua auto-estima e confiança.


Qual o objectivo dos jogos desportivos colectivos? O golo, o cesto ou o ponto. Então deve-se encorajar as crianças a tal, mesmo sabendo de antemão que a percentagem de êxito será muito reduzida. Mas o pouco que façam deve ser sempre elogiado, corrigido pela positiva, alimentado o desejo de sucesso e o desejo de voltar a tentar.


Sem querer cair na tentação de ser irrealista na forma de observar o processo de formação das crianças e jovens, diria que seria tão bom que as crianças errassem, errassem o máximo que pudessem, errassem tanto ou mais do que aquilo que deveriam brincar no dia a dia e não o façam por falta de tempo ou oportunidade, que os deixassem ser crianças no seu processo de formação desportiva.


As “minhas crianças” sabem que podem errar, não sentem receios, pois sabem que o grito, a reprimenda ou até o castigo nunca será o “prato do dia”.


Por isso pais, técnicos e professores, tenham paciência, sensibilidade, sejam positivos, encorajem os jovens, não valorizem o erro. Tenham calma, um jogo é só um jogo, não está mais nada em cima da mesa do que somente mais um momento de aprendizagem para os jovens.


Num outro artigo de opinião falarei de algo intimamente relacionado com isto que são os jogadores robots, telecomandados à distância quer por pais quer por técnicos, fazendo que estes não ajam mas sim reajam à informação que venha de fora.


Para terminar, para mim os meus pequenotes atletas serão sempre os melhores, farão sempre bem, até que chegue o momento em que estes compreendam o que é errar e valha a pena (se é que vale algum dia a pena) retirar da sua face, apesar de por instantes, aquele sorriso contagiante do êxito e da alegria de fazer.


* Nuno Esperança


Mestre em Ciências do Desporto e Educação Física pela F.C.D.E.F.


Professor de Educação Física no agrupamento de Escolas Arga e Lima


Escreve neste espaço quinzenalmente





opinião anterior: Opinião E: Alfabetização Motora versus Especialização Precoce

1 comentário:

  1. Excelente comentário...não podia estar mais de acordo. Creio que a melhor educação que podemos dar aos nossos jovens, na sua formação pessoal em geral e desportiva em particular, será a de apoio e incentivo sem os "sufocar" com medo de errar e de só ir pela certa.
    Devemos sim ter um acompanhamento muito próximo da realidade de cada jovem e dar-lhe as ferramentas para que se sinta confiante em querer chegar mais longe a cada momento que passa.

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