quinta-feira, 20 de setembro de 2012

César Fonte: “Gostava de dar o salto para uma equipa estrangeira”

Que expetativas e objetivos tinhas para a 74ªVolta a Portugal?
Dias antes de começar a competição estava com grandes expetativas de realizar uma grande Volta. Este ano planifiquei a época de uma maneira diferente. Concentrei-me mais na Volta a Portugal, abdicando de estar em plena forma noutras competições. À partida sabia que objetivo da equipa era vencer a Volta a Portugal e, portanto, o meu objetivo era realizar um grande trabalho em prol da equipa, ajudando sempre ao máximo os nossos líderes. Nunca meti em primeiro lugar os meus interesses pessoais, mas, muitas vezes, em circunstâncias da corrida surgem oportunidades e sabia que, se tal viesse acontecer, tinha que aproveitar essa oportunidade ao máximo porque podia ser única na competição.

Há um mês imaginavas que era possível vencer uma etapa?
Sinceramente, não. Sabia que estava em grande forma e tinha valor para vencer, mas a realidade também dizia que estava inserido numa grande equipa com grandes nomes do ciclismo português e que tinha grandes responsabilidades em lutar pela vitória na Volta a Portugal. Portanto, à partida não ia com ideias em grandes resultados pessoais. Claro que estamos a falar na Volta a Portugal, a corrida mais importante para o nosso calendário, em que não é nada fácil vencer uma etapa e a prova disso é que só três portugueses conseguiram este feito este ano.

A quem dedicas essa vitória?
Em primeiro lugar, como é óbvio aos meus pais e ao meu irmão, se não fosse o apoio deles quando era mais novo muito provavelmente hoje não era ciclista profissional. Dedico também à restante família, aos meus amigos, em especial ao grupo de amigos do futebol M. Pinto (eles são grandes) e também a todos os meus ex-treinadores das equipas de formação por onde passei. Sem eles isto não era possível e, por último, a todas as pessoas que eu próprio não conheço pessoalmente mas que gritaram pelo meu nome durante a Volta.

Foto: Carlos Rocha
No dia seguinte foste recebido em Viana do Castelo pela tua família e amigos. O que sentiste quando viste um mar de gente ansioso por te felicitar? 

Na verdade, são estes os momentos que valem tudo. Ganhar uma etapa na Volta a Portugal era um sonho, mas ter a oportunidade de poder sair da minha cidade com a família e muitos amigos presentes no dia a seguir depois de o conseguir foi fabuloso. São momentos que não se descrevem com palavras mas, sim, sentem-se e muito.

Como viveste a vitória do Rui Sousa na Senhora da Graça?
Foi um dia perfeito. O Rui é muito mais do que um colega de equipa, é um grande amigo, e, por isso, vê-lo vencer uma das etapas mais míticas da Volta a Portugal foi mais um grande momento de felicidade. Continua a demonstrar uma grande força física e a somar currículo. Quem sabe para o ano consiga finalmente vencer a Volta a Portugal.

Surpreendeste também no contra relógio individual. Esperavas ter um resultado tão bom numa etapa com estas caraterísticas?
Sei que é o meu ponto fraco, mas sinceramente estava à espera de melhorias no contrarrelógio. Treinei muitas horas este ano na bicicleta de contrarrelógio quando noutros anos quase nem o fazia. Optei também por marcar presença na prova nacional de contrarrelógio só com o objetivo de melhorar com vista ao futuro. Para já, o resultado de todo o treino específico que fiz foi positivo.

Com uma Volta a Portugal tão intensa, consegues definir um momento favorito para ti?
Ganhar uma etapa foi histórico. Foi, sem dúvida, um grande momento, muito provavelmente o mais importante até hoje na minha carreira. Mas, na verdade, esse fim de semana foi muito marcante. Eu e o Rui Sousa conseguimos ganhar as etapas que partiram do nosso concelho, melhor era quase impossível.

A Efapel-Glassdrive foi desde cedo apontada como a equipa favorita para a Volta a Portugal. Quais foram os ingredientes que vos levaram ao sucesso?
A nossa equipa é uma autêntica parada de estrelas do ciclismo português, mas nem sempre é fácil uma equipa triunfar com tantos valores. Nesse aspeto, o nosso diretor Carlos Pereira tem todo o mérito. Delineou um objetivo claro e todos nós sabíamos que papel tínhamos dentro da equipa. Depois, todo nosso profissionalismo transformou isso em resultados.

Como é o ambiente na equipa?
O ambiente é bom, apesar de algumas entradas na equipa este ano tudo continua igual ao que já era noutras épocas.

É bom ter dois colegas de Viana do Castelo?
Sim, claro. Viana do Castelo sempre foi uma terra de grandes valores no ciclismo e poder ter dois colegas na equipa é bastante produtivo para todos nós, porque basicamente treinamos sempre juntos e depois também temos a sorte de correr com os mesmos objetivos. O Rui Sousa é o mais experiente e uma referência do nosso ciclismo. Tenho aprendido e continuo aprender bastante com ele. Tenho tido uma grande evolução, mas muita devo ao Rui Sousa. O Sandro Pinto é o mais novo. Foi o seu primeiro ano como profissional mas tem muito potencial e um grande futuro pela frente. Era muito bom para todos surgirem mais ciclistas profissionais em Viana. 

 
Sentes que não só os vianenses, mas também os portugueses em geral conhecem o teu nome e te apoiam?
Sim, talvez seja normal porque a Volta a Portugal é a corrida mais mediática do país, mas, na verdade, foi um pouco estranho de repente ser conhecido e apoiado por muita gente. Mas é muito bom.

O que podemos esperar do César Fonte na próxima época?
A única coisa que posso prometer é que vou continuar a trabalhar como até hoje. Quero continuar a evoluir cada vez mais e quem sabe na próxima época consiga dar mais um passo, principalmente na Volta a Portugal.

Que metas queres alcançar no futuro?
Eu gostava de dar o salto para uma equipa estrangeira que me poderia dar a oportunidade de fazer outro tipo de calendário, como participar nas corridas mais importantes do mundo, mas se não surgir a oportunidade vou certamente concentrar-me na Volta a Portugal. Com o passar dos anos começo a perceber que posso ser um ciclista para discutir a Volta a Portugal no futuro.

No próximo ano, Viana do Castelo vai receber uma chegada de etapa. Gostarias que fosse disputada entre ti e o Rui Sousa?
Era excelente um de nós conseguir vencer na nossa cidade. Era bonito, mas depende do tipo de etapa que teremos pela frente. Eu e o Rui somos ciclistas talhados para a montanha e normalmente a etapa com chegada a Viana costuma ser uma etapa fácil, com chegada ao sprint e se assim for será muito complicado consegui-lo.

Os vianenses já conhecem e seguem bem de perto o ciclismo nacional?
Viana sempre teve grande história na modalidade e grandes ciclistas. Nos últimos anos, o Rui Sousa tem tido grandes performances na Volta, mas acho que o ciclismo está outra vez a ganhar a importância que teve no passado na cidade. Este ano foi uma grande Volta para nós ciclistas de Viana e acaba por ser normal os vianenses olharem com outros olhos para o ciclismo. Quero aproveitar para agradecer ao Desporto em Viana por continuar a fazer um grande trabalho em prol da nossa modalidade na nossa cidade.

Fabíola Maciel

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