quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Santos da Casa: Gostamos do futsal que temos?

“A mudança começa em cada um de nós”

A reta final dos campeonatos seniores da época anterior, quer em femininos quer em masculinos, foram apaixonantes. No primeiro caso, Castanheira e Soutelense tiveram de recorrer a um terceiro jogo – não me recordo de existir um episódio semelhante – enquanto, na vertente masculina, Afifense e Santa Luzia proporcionaram um duelo para mais tarde recordar, com um pavilhão David Freitas a abarrotar, num ambiente fantástico. Um hino ao futsal!

Em tempos de crise, o número de equipas de futsal na AFVC continua a crescer, quer no feminino quer na formação. As formações femininas chegaram a ter de competir na AF Braga, dado o escasso número de conjuntos inscritos. Na presente época, são dez os clubes a disputar o campeonato. Recordo-me, em tempos idos, de Viana ter apenas três equipas de juniores, e, como consequência, o seu campeão não poder disputar a Taça Nacional. Hoje, a realidade é bem mais simpática: oito emblemas disputam a prova do escalão.

No entanto, este aumento na qualidade reverte em favor da qualidade do futsal praticado? Sim e Não. Na parte afirmativa, o final da temporada transata é o retrato fiel desse cenário. Contudo, abordo a questão por um lado que é importante: no passado sábado, o conjunto feminino do Santa Luzia venceu o Cerveira por 22-0. A formação de Miguel Passos é uma das candidatas ao título, enquanto o Cerveira terá aspirações bem diferentes. Este é apenas um exemplo real e atual, nem precisaríamos de procurar muito para encontrarmos outros nos campeonatos masculinos, quer em seniores quer em juniores.

Chamo, particularmente, a atenção para este encontro por dois motivos: primeiro, porque não é um resultado são para a competição. A equipa que vence, parece-me, é aquela que sai mais a perder, o jogo torna-se confuso e de difícil gestão para o treinador. Do outro lado, terá de estar uma equipa bem preparada mentalmente, porque ninguém gosta de perder. E aí, louve-se a dignidade das jogadoras do Cerveira. Se há quem diga que “o fair play é uma treta” – tendo o seu quê de razão – as atletas de Arcádio provaram o contrário, honrando o clube que defendem e a modalidade que praticam.

Por outro lado, o aumento do número de equipas, numa associação com poucos atletas com formação, quer em quantidade quer em qualidade, pode significar uma disparidade enorme entre as formações concorrentes. Começar a formar jogadores aos 18/20/22 anos tem os seus custos e um preço a pagar.

Convém que a AFVC tenha um olhar especial para estes acontecimentos. Culpados? Não os há, mas podem acabar por ser todos. Se queremos um futsal melhor, teremos de ser exigentes. E se não podemos começar no cume da montanha, comecemos pela base. Não tem interesse ter muitas equipas a competir, calendários com muitos jogos, se, no final, e dentro das quatro linhas, há duas ou três equipas mais fortes, na melhor das hipóteses. É um facto que este é um risco que todas as competições correm, mas se Viana quer evoluir, tornar-se mais competitiva a nível nacional, terá de olhar para estas, e outras questões, com mais responsabilidade.

Não falo, para ser mais uma voz a criticar. Toco na ferida porque acredito que existem condições para Viana ter mais equipas de qualidade. Provas? Simples. Nogueirense chegou à primeira divisão, com malta da casa. Afifense está fazer uma época notável. Quantos jogadores têm de fora? Zero. Creio que diz tudo. A realidade estende-se ao feminino, onde, previsivelmente, a luta pelo título será a quatro – Monserrate, Soutelense, Santa Luzia e Castanheira – mas Fontão e ARCAS mostraram que têm uma palavra a dizer.

Só mesmo para terminar, volto a colocar a eterna questão… quando vamos jogar, de facto, futsal, com tempo cronometrado?

João Santos

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