quinta-feira, 29 de julho de 2010

Rui Sousa: "Estive a ponto de deixar de correr" - 2ª parte

A 71.ª Volta a Portugal ficou marcada pela vitória de Nuno Ribeiro, atleta da Liberty Seguros, que posteriormente foi anulada devido a um resultado positivo no controlo anti-doping. A equipa terminou e Rui Sousa enfrentou, mais uma vez, um desvio forçado na sua carreira.


DEV: No ano passado, a equipa da Liberty Seguros acabou devido ao resultado positivo no controlo anti-doping de vários ciclistas. Como reagiu a esta situação?


Rui Sousa: Estive a ponto de deixar de correr. Pouco tempo antes tinha renovado o contrato com a Liberty Seguros e, mediante a sua extinção e a situação das equipas em Portugal, pensei seriamente em sair do ciclismo. Contudo, não queria que todos estes anos de carreira acabassem assim e, então, acabei por aceitar o convite da Barbot-Siper. As condições não são as mesmas, mas é mais um ano que corro.


DEV: Alguma vez teve indícios desta prática na equipa?


RS: Foi uma situação que nos apanhou completamente de surpresa. Saber que a equipa tinha terminado naquele momento foi uma tristeza total, ainda para mais sendo um projecto daquele nível. Éramos catorze ou quinze atletas e ninguém sabe muito bem o que se passou. Uns empurram a culpa para os outros. Não sei quem está a dizer a verdade, mas também são assuntos passados. Já me preocupei mais com isso, agora só quero levar a minha vida para a frente na equipa onde estou. A minha vida mudou muito, porque estava num grande projecto e passei para uma equipa que luta diariamente para subsistir.


DEV: Depois disso, falou com o Nuno Ribeiro e os restantes colegas de equipa?


RS: Falámos algumas vezes. Na altura tivemos muitas reuniões, inclusive na Liberty Seguros em Lisboa, para percebermos o que se tinha passado. Infelizmente, nunca se chegou a nenhuma conclusão. Não mantenho uma ligação directa, mas falámos de vez em quando, sem nunca abordarmos esse tema.


DEV: Acha que este caso retirou credibilidade à Volta a Portugal em bicicleta?


RS: Acho que este ou qualquer outro caso mancha uma corrida. Há muitos anos que se esperava que um português vencesse a prova e, por isso, o choque foi maior. Acabou por instalar um clima de tristeza total.


DEV: Esta é uma prática frequente no ciclismo?


RS: Há casos em todas as modalidades, mas, evidentemente, o ciclismo é o bode expiatório. Se virmos as estatísticas, no ciclismo há mais controlo, logo existe um maior número de casos positivos. A comunicação social destaca os problemas e não as vitórias de um ciclista português. Só no ciclismo e no atletismo é que existe um controlo apertado através de formulário. Actualmente, todos os ciclistas são obrigados a estar em casa numa determinada hora do dia para realizarem o controlo anti-doping. Esta medida é bastante apertada e condiciona o nosso dia-a-dia, porque também se aplica aos fins-de-semana e feriados. Se me ausentar tenho que transmitir à Autoridade Antidopagem de Portugal (ADoP) o porquê e os pormenores da viagem. Ainda assim, sou obrigado a apresentar-me para o controlo à hora marcada. As outras modalidades têm tantos casos de doping como o ciclismo, mas há muito menos controlo. Por exemplo, muito se especulou sobre a saída do Nani no Mundial, mas não se chegou a conclusão nenhuma. Nas outras modalidades é tudo camuflado.


DEV: O que é preciso fazer para mudar esta situação?


RS: É preciso mudar mentalidades. Infelizmente, não sou eu em fim de carreira que vou mudar o sistema. Deveria haver uma melhor comunicação entre a Federação Portuguesa de Ciclismo, as equipas e os atletas.


DEV: Ultrapassado esse obstáculo, integrou a Barbot-Siper. Como foi a adaptação?


RS: Já conhecia todos os dirigentes e alguns atletas, por isso a adaptação foi fácil. Há outra maneira de trabalhar, porque são equipas que vivem no “fio da navalha” devido à falta de apoios. Fui bem recebido e sinto que sou muito protegido.


Fabíola Maciel

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